A raça Bonsmara foi desenvolvida na África do Sul a partir de 1937, impulsionada pela necessidade de bovinos de corte que combinassem a precocidade e qualidade da carne de raças taurinas europeias com a adaptação climática das raças nativas tropicais. O governo sul-africano iniciou um programa de melhoramento genético, liderado pelo Professor Jan Bonsma, para resolver a “síndrome de degeneração tropical” que afetava as raças europeias em climas quentes.

Conheça as principais características da raça Bonsmara:
- Composição Genética: A raça Bonsmara é o resultado de um minucioso trabalho de seleção, sendo um animal “5/8 Afrikaner (Sanga), 3/16 Hereford (Taurino) e 3/16 Shorthorn (Taurino)”.
- Nome: O nome “Bonsmara” é uma homenagem ao Professor Jan Bonsma e à Estação Experimental de Mara.
- Singularidade: É a “única raça de gado de corte (Bos taurus) resistente às condições próprias do clima tropical sem alterar sua alta produtividade.” (SOCIEDADE DA CARNE, 2013). O processo de medição e avaliação resultou na “eficiência funcional” desejada, criando a “única raça de corte produzida pela ciência”. (CORBET et. al., 2006; CLIMACO et al., 2011; SOCIEDADE DA CARNE, 2013).
A raça Bonsmara chegou ao Brasil de forma gradual, impulsionada pelos excelentes resultados observados em outros países e pela busca por soluções para os desafios da pecuária tropical brasileira.
- Primeiro Contato (1997): “No ano de 1997 o primeiro sêmen da raça chega ao brasil, oriundo de embriões importados da Argentina, para a produção de novas raças.”
- Importação Direta (1999/2000): Devido ao sucesso inicial, criadores brasileiros importaram embriões congelados diretamente da África do Sul em 1999, pois o protocolo sanitário Brasil-África do Sul permitia apenas essa modalidade. Eles identificaram no Bonsmara “a peça-chave para solucionar uma dificuldade da pecuária dos trópicos: um touro não zebu que trabalhasse bem a pasto, em condições de clima quente, produzisse animais com muita heterose e com carne de altíssima qualidade” (SOCIEDADE DA CARNE, 2013).
- Homologação da ABCB (2000): Em 2000, o Ministério da Agricultura homologou a criação da Associação Brasileira dos Criadores de Bonsmara (Associação Brasileira de Criadores de Bonsmara, 2004).
- Manutenção do “Sistema Bonsmara”: Os criadores pioneiros no Brasil se comprometeram a “trazer e manter o ‘Sistema Bonsmara’ no Brasil”, um sistema de produção focado na continuidade da produção de animais de ótima qualidade.
A raça Bonsmara segue um rigoroso sistema de avaliação e seleção para garantir a manutenção de seus padrões genéticos e produtivos.
- Medições Essenciais: Os animais são pesados ao nascer e em diferentes estágios de desenvolvimento (100, 205, 365 e 510 dias), têm a altura medida aos 365 dias e a circunferência escrotal aos 365 e 540 dias.
- Avaliação Visual: Entre 15 e 18 meses, um técnico da ABCB realiza uma avaliação visual. “qualquer animal que estiver 10% abaixo da medida é descartado. Esse critério de avaliação é de suma importância para que possa disponibilizar touros de alta qualidade”.
- Classificação Genética: A África do Sul é responsável pela análise genética dos animais no Brasil, indicando os melhores para centrais de reprodução. A ABCB classifica os touros com três a cinco estrelas.
O Bonsmara se destaca por um conjunto de características que o tornam altamente vantajoso para a pecuária de corte, especialmente em climas tropicais.
- Alta Produtividade e Precocidade: Apresenta “altos níveis de produtividade, ótima fertilidade e com alta precocidade”. Um touro Bonsmara “com 18 meses de idade já está em condições de ser usado a campo, com ótimo libido, atingindo altos níveis de precocidade sexual, ganhando tempo na produção e melhorando a produtividade e lucratividade” (Qualitas Bonsmara 2019).
- Heterose em Cruzamentos: Por não ter origem zebuína, o Bonsmara “produz cruzamento com Zebu de 100% de heterose”, o que resulta em “ganho de peso, precocidade sexual e acabamento de carcaça” na progênie.
- Adaptação Tropical: Uma das maiores vantagens é sua “adaptação ao clima tropical fazendo com que o animal consiga expressar toda a sua capacidade no campo. O animal que apresenta qualquer dificuldade na adaptação é descartado.”
- Critérios de Seleção (Destaques):
- Fertilidade: Considerada “uma das características mais importantes”.
- Precocidade: Avaliada em machos e fêmeas, com o “intervalo entre partos [sendo] uma característica importante”.
- Libido e Qualidade Espermática: Essenciais nos machos e para comprovar a não degeneração testicular em clima tropical.
- Ganho de Peso: Deve ser “proporcional com o animal, ou seja, nem muito alto e nem muito pequeno”, e de “genética com ganho de peso rápido”.
- Acabamento de Carcaça: Característica de “deposição de gordura em toda a carcaça, precisa ter entre 3 e 6 milímetros a partir de 16 arrobas”.
- Temperamento: Animais mais tranquilos “possuem maior peso e, com isso, produzem carne de melhor qualidade, além de causarem menos acidentes no manejo”.

A raça Bonsmara tem um impacto significativo na melhoria da qualidade da carne, principalmente na maciez, um atributo altamente valorizado pelos consumidores.
Desafio da Pecuária Brasileira:
A produção de carne no Brasil, majoritariamente de animais zebuínos criados a pasto, “retardando a idade de abate, o que proporciona uma carne mais dura.” (Bianchini, 2017).
- Contribuição do Bonsmara: A raça contribui para superar esse desafio, produzindo carne com “marmoreio, característico de carnes originadas de raças taurinas, o que favorece a maciez.” (Bonsmara Barra Grande, 2020).
- Estudo Comparativo (Climaco et al., 2011): Um experimento comparando Bonsmara, mestiços (½ Bonsmara + ½ Nelore; ½ Bonsmara + ¼ Red Angus + ¼ Nelore) e Tabapuã em confinamento demonstrou que “a carne dos animais Bonsmara e mestiços B1 e B2 apresentou melhor qualidade e maior maciez se comparada à dos Tabapuã”.
O Brasil, como maior exportador mundial de carne bovina, busca constantemente a adequação aos padrões de qualidade exigidos pelo mercado internacional, com destaque para a maciez da carne. A inclusão da raça Bonsmara em cruzamentos industriais no país tem se mostrado uma estratégia eficaz para alcançar esses objetivos.
A raça Bonsmara, “elaborada pela ciência”, oferece uma combinação única de precocidade, produtividade, fertilidade, docilidade e, crucialmente, melhoria na qualidade da carne, especialmente na maciez. Sua adaptabilidade aos climas tropicais a posiciona como uma ferramenta valiosa para a pecuária de corte brasileira, resultando em maior lucratividade para os produtores e produtos de maior valor agregado para os consumidores.